domingo, 30 de maio de 2010

Como Portugal pode sair da crise em 10 anos (por Ana Rita Guerra in ionline.pt)

No dia em que a crise mundial estiver oficialmente ultrapassada, Portugal não estará mais perto de sair dela. O motivo é simples: a crise faz parte do modo de operação da economia portuguesa. Para alterar o rumo do país, é preciso modificar radicalmente o modelo de funcionamento. A alternativa, se nada for feito, é sair "da crise conjuntural com os problemas estruturais agravados" por causa as opções de política económica que estão a ser tomadas (as grandes obras públicas, por exemplo), escreveu o ex-ministro das Finanças, Eduardo Catroga, numa carta que enviou ao governo. Qual é, então, a receita para tirar Portugal da crise nos próximos dez anos?

"Portugal precisa é de poupar, não de gastar, para no futuro conseguir investir mais e melhor". A fórmula é de José Silva Lopes, ex-governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças. O economista concorda em termos genéricos com a proposta de Eduardo Catroga no "grito de alerta" publicado no último sábado.

Segundo este economista, o governo socialista deve ouvir o que um grupo de economistas "interessados e preocupados" têm a dizer sobre os grandes investimentos. "Seria bom ter muita gente a pensar - não só os economistas, mas engenheiros, arquitectos, advogados - em quais os investimentos que menos vão sobrecarregar as gerações futuras", acrescenta Silva Lopes.

Uma ideia partilhada por Miguel Cadilhe, para quem o mais importante é "conter a despesa corrente". Com um toque de ironia, o ex-ministro das Finanças defende uma solução de três passos: "Um, reformas estruturais; dois, reformas estruturais e três, reformas estruturais".

Será preciso reestruturar tudo, da Justiça ao trabalho, passando por todos os domínios da despesa pública, e repensar o endividamento externo. "Não temos feito grandes reformas nos últimos anos", lamenta Cadilhe, lembrando que o aumento da competitividade requer novos formatos.

Também o presidente da Martifer, Carlos Martins, considera ser preciso repensar os gastos megalómanos. "Estamos a correr o risco de hipotecar o futuro", afirma, destacando que o nível actual de endividamento "é preocupante", e que até os casos que eram recomendados como um exemplo a seguir por Portugal - como a Irlanda - acabaram por "afundar completamente".

O próprio Eduardo Catroga, que garantiu ao i não querer liderar nenhum grupo, mas sim suscitar a discussão, recomenda que Portugal troque volume por qualidade no que toca a investimentos. "A capacidade de endividamento externo não é ilimitada, e exige escolhas", frisou Catroga no seu alerta. "Governar é hierarquizar prioridades, e depois optar".

investir na geografia "Portugal deve servir de porta de entrada de produtos na Europa e particularmente na Península Ibérica, aproveitando a sua posição no Atlântico". O professor do ISEG João Duque acredita que o país tem que apostar na capacidade transformadora e usar aquilo que tem de melhor: as pessoas e a inovação. "Tenho dúvidas sobre as grandes obras", opina o especialista, declarando: "Não é por essa via que vamos lá". Para sair da crise também é acertado apostar no turismo, remata.

mais justiça social O remédio é tudo menos novo, mas parece ganhar novo fôlego num momento em que os bairros problemáticos não saem dos telejornais.

O professor catedrático de Economia na Universidade de Coimbra, José Reis, sustenta que "o que ditará o desenvolvimento económico dos próximos dez anos é o combate à desigualdade".

Este economista lembra que o país tem vivido acima das possibilidades, graças ao endividamento excessivo, e que as entropias geradas pelas desigualdades "prejudicam o caminho para a prosperidade, perpetuando os desequilíbrios que existem há décadas".

Além disso, frisa, "temos de olhar para os resultados das políticas públicas que, no fim de contas, são salários indirectos para muitas pessoas". Isto é, "melhor saúde e educação só podem ter um efeito positivo na produtividade e no bem-estar de toda a população a médio/longo prazo", conclui.

proteger as boas ideias "Portugal não percebeu muito bem a mudança actual de paradigma, na qual a propriedade intelectual é de importância vital". António Câmara, presidente de uma das tecnológicas portuguesas mais bem sucedidas lá fora, defende que é preciso reforçar a protecção da inovação e a massa crítica de talentos. "Temos de criar 100 a 200 novas empresas de base tecnológica", acrescenta o CEO da YDreams, sublinhando que é necessário "criar bom ambiente para a juventude talentosa". Algo que, na sua opinião, está nas mãos do governo.

Diogo Vaz Guedes, presidente da Aquapura, também destaca o papel que a inovação tecnológica pode ter. Embora ressalve que "é fácil" fazer críticas ao que poderia ter sido feito e não o foi nos últimos anos, o empresário recomenda que a próxima década se centre na "flexibilização". Vaz Guedes atenta ainda que Portugal pode capitalizar na "boa imagem" que angariou em sectores de valor acrescentado, como a tecnologia, o turismo, a vitivinicultura e as energias renováveis.

1 comentário:

Aguiar disse...

O culto das aparências sempre foi apanágio do nosso País. Empréstimo para um carro, empréstimo para a casa, empréstimo para mobilar a casa, empréstimo para um LCD e porque não para uma piscina ou para outra casa. Enfim mentalidade de merda...

Eu sempre ouvi dizer quem não pode não compra!

isto pra nao falar no governo que troca a frota automovel de 4 em 4 anos...enfim...

alguem tem que pagar isto e advinhem quem será?
TODOS NÓS!

Será está a nossa triste sina?